sábado, 17 de outubro de 2009

AS TRÊS COLOCAÇÕES DO ANJO – Lc 1,28


Missa na Igreja do local da Anunciação do Anjo a Maria, em Nazareth (Israel).

Em uma sociedade, onde não raro, a corrupção prevalece sobre a honestidade. Onde, poucos possuem acesso à educação, onde os valores familiares estão sendo destruídos. Onde, uma onda de agitação convoca a produzirmos e consumirmos mais.

Hoje, um sábado (17.out.09), a cidade do Rio de Janeiro, de modo especial a zona norte, está em pânico, devido aos embates entre o tráfico de drogas e Polícia Militar, cada dia uma novidade, hoje conseguiram derrubar um helicóptero da Policia, onde dois policiais morreram.

Mas, no meio de todas estas desmoralizações, a que somos submetidos, ainda ficamos felizes, pois amanhã (domingo), Dia do Senhor, estaremos na Diocese de Duque de Caxias, em São João de Meriti, para partilhar com congregados marianos e juventude mariana, sobre as três colocações proferidas pelo anjo do Senhor a Virgem Maria.

Contemplamos Nossa Senhora que “enriquecida, desde o primeiro instante da sua conceição, com os esplendores duma santidade singular, a Virgem de Nazaré é saldada pelo anjo, da parte de Deus, como cheia de graça (Lc 1,28). Deste modo, Maria, filha de Adão, dando o seu consentimento à palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus e, não retida por qualquer pecado, abraçou de todo o coração o desígnio salvador de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, á pessoa e à obra de seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo pela graça de Deus onipotente o mistério da Redenção. Por isso, consideram com razão os Santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens” – LG 56.

A Anunciação a Maria e a Encarnação do Verbo (fato maravilhoso, o mistério das relações de Deus com os homens e acontecimento mais transcendente da História da Humanidade). Que Deus se faça homem e para sempre! Até onde chegou a bondade, a misericórdia e o amor de Deus por nós, por todos nós! E, não obstante, no dia em que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade assumiu a débil natureza humana das entranhas puríssimas de Maria Santíssima, nada extraordinário acontecia, aparentemente, sobre a face da terra.

Desta forma, partindo da leitura de Lc 1,26-28: “No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”.

Nos basta, estas três colocações: “Ave” – “cheia de graça” – “O Senhor é contigo”.

Chaire Kecharitomene (Ave, cheia de graça)) São as primeiras palavras que Maria escuta do Anjo do Senhor. Estas palavras são o início de nossa fé, que se prolongará em: Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição.

O Anjo do Senhor faz chegar a Maria uma saudação profética: “Alegra-te! Sim alegra-te”. É um convite à alegria messiânica. Conforme no Antigo Testamento nos falara através do profeta Zacarias, em Zc 9,9-10: “Exulta de alegria, filha de Sião, solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém; eis que vem a ti o teu rei, justo e vitorioso; ele é simples e vem montado num jumento, no potro de uma jumenta. Ele suprimirá os carros de guerra na terra de Efraim, e os cavalos de Jerusalém. O arco de guerra será quebrado. Ele proclamará a paz entre as nações, seu império estender-se-á de um mar ao outro, desde o rio até as extremidades da terra”.

Contemplemos a cena, e vemos que em Maria se vai cumprir a profecia de Zacarias.

O anjo, desde a primeira colocaçãoAve”, põe Maria a par de que algo maravilhoso vai ocorrer. Sf 3,14: “Solta gritos de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, ó Israel! Alegra-te e rejubila-te de todo o teu coração, filha de Jerusalém”!

Salve!”: Literalmente o texto grego diz: Alegra-te! (Chaire). É claro que se trata de uma alegria totalmente singular pela notícia que Lhe vai comunicar a seguir.

A segunda colocação do enviado “cheia de graça” é uma denominação para Maria. Entre os judeus, o nome da pessoa está vinculado a missão que esta irá exercer. Ex: Abrão para Abraão = Pai da multidão; Sarai (minha princesa) para Sara (mãe fecunda); O nome de Jacó muda para Israel (aquele que luta com Deus); Simão para Pedro (Pedra) e Maria é Cheia de Graça (favorita de Deus).

Cheia de graça”: O Arcanjo manifesta a dignidade e a honra de Maria com esta saudação desusada. Os Padres e Doutores da Igreja “ensinaram que com esta singular e solene saudação, jamais ouvida, se manifestava que a Mãe de Deus era assento de todas as graças divinas e que estava adornada de todos os carismas do Espírito Santo”, pelo que “jamais esteve sujeita a maldição”, isto é, esteve imune de todo o pecado. Estas palavras do Arcanjo constituem um dos textos em que se revela o dogma da Imaculada Conceição de Maria, ocorrido em 8.dez.1854. (Cfr Ineffabilis Deus, nº 14).

A terceira colocação do anjo “O Senhor está contigo”, que encerra um sentido oculto a primeira vista. Mas, faz referência a profecia de Isaías 7,14: “Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco”.

O Senhor está contigo”: Estas palavras não tem um mero sentido de súplica (o Senhor esteja contigo), mas afirmativo (o Senhor está contigo), e em relação muito estreita com a Encarnação. Santo Agostinho glosa a frase “o Senhor está contigo” pondo na boca do arcanjo estas palavras: “Mais que comigo, Ele está no teu coração, forma-Se no teu ventre, enche a tua alma, está no teu seio”.

As três colocações possuem uma chave maravilhosa e estão repletas de riquezas: - Alegra-te, filha de Sião, o Messias está por chegar; foste agraciada por Deus e Ele estará contigo. Perguntamos: Será que a Virgem percebeu este conteúdo? Será que foi a causa de sua inquietação?

Maria começa a refletir sobre a maravilha que acabara de ouvir. O Anjo do Senhor em complemento amplia a mensagem e tornando a mesma mais clara, facilitando, desta forma, o entendimento de Maria. Cf. Lc 1,30-33: “O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim”.

Maria, Virgem, escuta atentamente a palavra do Anjo e começa entender o sentido messiânico desta palavra.

No interior da Virgem surge algo que lhe toca, podemos até associar com o oráculo do profeta Jeremias, cf. Jr 31,3: “De longe me aparecia o Senhor: amo-te com eterno amor, e por isso a ti estendi o meu favor”.

Maria continua confusa, sente-se surpresa, diante da magnitude que está ocorrendo. Ela tem um respeito temente, diante do espanto que aquelas palavras produzem. Seu Filho seria o Messias tanto tempo esperado por Israel. Apesar do assombro, Maria compreende, mas com um conhecimento transcendental (assentimento da fé). É a invasão súbita do maravilhoso na sua consciência, ou seja, é Deus mesmo iluminando internamente Maria. Sf 3,14-15: “Solta gritos de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, ó Israel! Alegra-te e rejubila-te de todo o teu coração, filha de Jerusalém! O Senhor revogou a sentença pronunciada contra ti, e afastou o teu inimigo. O rei de Israel, que é o Senhor, está no meio de ti; não conhecerás mais a desgraça”.

Mas, esta primeira intuição vai crescendo e se desenvolve, e no meio de toda esta agitação. Maria toma consciência de sua consagração virginal e pergunta a si própria e ao anjo. Lc 1,34: “Como se fará isso, pois não conheço homem”?

Maria pergunta, não porque tem dúvida, mas sim com o desejo de maior luz, pois Ela não podia entender, como ocorreria esta maternidade, já que tinha feito o propósito de não conhecer homem algum. Esta pergunta, ao anjo, esclarece o segredo de Maria.

Quem melhor expressa este sentir de Maria, será Santo Agostinho (+430): “Por isso é mais aceita e agradável a virgindade de Maria, pois antes de conceber o Cristo, Maria já era consagrada a Deus. Assim, se desliga de sua resposta ao anjo que lhe anunciava que daria à luz um Filho... coisa que não teria certamente dito, se antes não se houvesse consagrado a Deus”. E para não causar escândalo junto aos israelitas, continua o Santo de Hipona: “foi desposada com um homem justo, não para privar o que já havia prometido (a virgindade), mas para preservá-la de toda a violação”.

Alguns importantes manuscritos gregos e versões antigas acrescentam no fim: “Bendita tu entre as mulheres”: Deus exaltá-La-ia assim sobre todas as mulheres. Mais excelente que Sara, Ana, Débora, Raquel, Judite etc..., pelo fato de que só Ela tem a suprema dignidade de ter sido escolhida para ser Mãe de Deus.

Já dizia Santo Ambrósio de Milão (doutor da Igreja, + 397): “Não diz a Sagrada Escritura, apenas que uma Virgem conceberá, mas também que uma Virgem dará à luz. Pois, o que é a porta do templo”? Ez 44,1s: “Ele reconduziu-me ao pórtico exterior do santuário, que fica fronteiro ao oriente, o qual se achava fechado. O Senhor disse-me: Este pórtico ficará fechado. Ninguém o abrirá, ninguém aí passará, porque o Senhor, Deus de Israel, aí passou; ele permanecerá fechado”.

Não é Maria esta porta, pela qual o Salvador entrou no mundo... ela que concebeu e deu à luz como virgem”.

Com grande simplicidade narra São Lucas o magno acontecimento. Com quanta atenção, reverência e amor temos de ler estas palavras do Evangelho, rezar piedosamente o Angelus cada dia, seguindo a divulgada devoção cristã, e contemplar o primeiro mistério gozoso do Santo Rosário.

Esqueçamos a violência de nossa cidade e pratiquemos em nossos ambientes o Amor de Deus. Salve Maria!

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